Sandro do Nascimento, desempregado – vítima da sociedade – faz refém a professora Geisa F. Gonçalves, no episódio que ficou conhecido como ônibus 174.
Rio de Janeiro em 12/06/2000.
Caso Eloá Cristina se refere ao mais longo sequestro em cárcere privado já registrado pela polícia do estado brasileiro de São Paulo, seguido de homicídio, que adquiriu grande repercussão nacional e internacional.
Santo André em 13 de outubro de 2008
No meio policial brasileiro, o gerenciamento de crises é um tema relativamente recente, existindo estudos publicados no final da década de 80 e início dos anos 90. Um trabalho pioneiro foi a apostila elaborada pela ANP/DPF – Academia Nacional de Polícia, do Departamento de Polícia Federal, sediada em Brasília/DF, de autoria do Delegado de Polícia Federal, Dr. Roberto das Chagas Monteiro.
Outro marco importante, nesse contexto, foi a criação nos anos 80, de uma unidade tática de elite (tipo SWAT) na Polícia Federal, o COT (Comando de Operações Táticas) subordinado ao alto escalão da corporação, responsável por intervenções de alto risco, com reféns e apoderamento ilícito de aeronaves, comumente conhecido como “sequestro de aviões”.
Com o aumento violência e da ousadia dos criminosos, cada vez mais inovando nas práticas criminosas, as instituições de segurança pública passaram a se prepararem para apresentar uma resposta à altura, capacitando seus policiais para enfrentarem e gerenciarem as inúmeras situações de crise instaladas.
Nos últimos anos os cursos de formação de policiais passaram a incorporar essa disciplina, já integrando a grade curricular na preparação de agentes, escrivães, soldados da PM, bombeiros militares, agente penitenciários etc. No final de 2012 a Polícia Federal atualizou o programa do Curso de Formação do Vigilante, introduzindo, dentre outras, essa disciplina, possibilitando que o profissional de segurança privada, que presta vigilância em inúmeros locais, que podem ser palco de crises, possua conhecimentos básicos sobre o tema, podendo auxiliar, nos limites de suas atribuições, as autoridades policiais, a quem compete o “gerenciamento” dos eventos instalados.
O ensinamento dessa disciplina nos cursos de formação de vigilantes, não pretende habilitar esse profissional para “resolver” as crises instaladas em sua volta, mas fazer com que conheça o tema, suas características, evitando a adoção de medidas impensadas que, ao invés de ajudar, termine complicando ainda mais o quadro crítico.
Conceito de conflito
Conflito, nesse contexto, seria uma oposição de interesses, sentimentos, ideias, que pode gerar desentendimentos, tumulto, desordem, brigas, confusão etc., que geralmente pode ser contido por outro tipo de ação: desde o convencimento, buscando um acordo, uma concordância entre os envolvidos, ou, até mesmo com a intervenção da força de aparato de segurança, que pode ser de policiais ou de vigilantes.
Um conflito pode, eventualmente, progredir para um evento crítico, sem haver, entretanto, uma relação direta entre os tipos de eventos.
Ao contrário da crise, no conflito pode haver a intervenção do vigilante, tentando conter os ânimos, enquanto se aguarda a chegada polícia, acaso a situação persista ou seja de grande proporção.
Conceito de crise
Crise é todo incidente ou situação crucial não rotineira, que exige resposta especial da Polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável, em razão da possibilidade de agravamento conjuntural, inclusive com risco a vida das pessoas envolvidas, podendo se manifestar através de motins em presídios, roubos a bancos com reféns, sequestros, atos de terrorismo, tentativa de suicídio, dentre outras ocorrências de grande vulto.
NOTA
O FBI, a polícia federal americana, define crise como sendo “um evento ou situação crucial, que exige uma resposta especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”.
Como se observa no enunciado acima, foi utilização da expressão “da polícia”, ficando claro que o gerenciamento de uma crise compete as autoridades policiais, não sendo recomendável a participação de outros profissionais, como psicólogos, religiosos, artista, repórteres etc. em negociações para solucionar uma crise.
Característica de uma crise
Necessidade de:
Conceito de Gerenciamento de Crises
É o processo eficaz de se identificar, obter e aplicar, de conformidade com a legislação vigente e com emprego das técnicas especializadas os recursos estratégicos adequados para a solução da crise, sejam medidas de antecipação, prevenção e/ou resolução, a fim de assegurar o completo restabelecimento da ordem pública e da normalidade da situação.
Objetivos do gerenciamento de crises:
O objetivo do gerenciamento de crises é preservar a vida e aplicar a lei. A vida como bem jurídico de maior valor é o principal alvo de proteção no gerenciamento de crises.
Critérios de ação no gerenciamento de crises:
Na tomada de decisões, deve-se rigorosamente observar os seguintes critérios:
CLASSIFICAÇÃO DOS GRAUS DE RISCO OU AMEAÇA
CLASSIFICAÇÃO | TIPO | EXEMPLOS do FBI |
1º GRAU | ALTO RISCO | Assalto à banco por um ou dois elementos armados de revólver sem reféns. |
2º GRAU | ALTÍSSIMO RISCO | Assalto à banco por dois elementos armados de metralhadora, mantendo três ou quatro reféns. |
3º GRAU | AMEAÇA EXTROARDINÁRIA | Terroristas armados com metralhadoras ou outras armas automáticas, mantendo reféns a bordo de uma aeronave. |
4º GRAU | AMEAÇA EXÓGENA | Um indivíduo de posse de um recipiente, afirmando que o conteúdo é radioativo e de alto poder destrutivo ou letal, por qualquer motivo, ameaça uma população. |
NÍVEIS DE RESPOSTA E FATORES QUE INFLUENCIAM NA CLASSIFICAÇÃO DE EVENTOS CRÍTICOS E NA GRADAÇÃO DE SUA PERICULOSIDADE
NÍVEL | RECURSOS | RESPOSTA POLICIAL |
UM | LOCAIS | As guarnições normais poderão atender a ocorrência. |
DOIS | LOCAIS ESPECIALIZADOS | As guarnições normais não conseguiram solucionar, pede-se apoio de uma guarnição especial da Unidade de área. |
TRÊS | TODOS DO NÍVEL DOIS + COMANDO GERAL | As guarnições especiais não conseguiram solucionar, pede-se apoio da equipe especial da maior autoridade. |
QUATRO | TODOS DO NÍVEL TRÊS + RECURSOS EXÓGENOS | A Equipe especial é empregada com o auxílio de profissionais de áreas especializadas. |
Fontes de Informação em uma Crise
Para se avaliar o grau de risco de um evento crítico, se toma por base as informações coletadas desde os primeiros momentos, geralmente pela primeira autoridade policial que chega ao local. Segundo Monteiro (ANP, 1991) são as seguintes fontes de informação:
1) Reféns liberados ou que tenham conseguido fugir;
2) Os negociadores;
3) Os policiais encarregados de observar o ponto crítico ou que estejam na condição de franco-atiradores (atiradores de precisão);
4) Investigações;
5) Documentos a respeito dos bandidos e do ponto crítico, tai como, mapas, croquis, fotografias, etc.;
6) Vigilância técnica do ponto crítico;
7) A mídia, e
8) As ações táticas de reconhecimento.
Autoridades locais que devem ser imediatamente comunicadas
O acionamento de qualquer dos Grupos especializados sempre se dá através da Central de Operações, geralmente pelo telefone 190. Quando o atendente da central de operações recebe a informação e toma conhecimento da natureza da ocorrência, já adotará as providências necessárias.
Em ocorrências de grande vulto, com ameaça de vidas, urgência e necessidade de atuação especializada organizacional não rotineira, as medidas internas em uma empresa devem se restringir a manter a calma e acionar imediatamente a Polícia a fim de que sejam adotadas as providências adequadas e aceitáveis por parte do grupo especializado.
O profissional de segurança privada deve se conscientizar que qualquer decisão precipitada e inadequada pode resultar em prejuízos irreparáveis e irreversíveis.
Sugestões de filmes: